ÁREAS DE RISCO

SEMADE atua na prevenção de deslizamentos em áreas de alto risco em Maranguape



 MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA



Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral

Serviço Geológico do Brasil – CPRM

Departamento de Gestão Territorial - DEGET



 AÇÃO EMERGENCIAL PARA DELIMITAÇÃO DE ÁREAS EM ALTO E MUITO ALTO RISCO A ENCHENTES, INUNDAÇÕES E MOVIMENTOS DE MASSA

Maranguape/CE


Outubro –2014

1.     Introdução e Objetivos
Anualmente inúmeros eventos decorrentes de desastres naturais ocorrem por todo o país, como as inundações de Alagoas e Pernambuco em 2010, Santa Catarina em 2011 e das chuvas catastróficas ocorridas na região serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011, bem as fortes chuvas em janeiro de 2012 nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e em fevereiro de 2012 no Acre, que acarretaram a perda de milhares de vidas humanas em suas totalidades e ultrapassaram todas as expectativas as previsões dos sistemas de alerta existentes. No Ceará, mais especificamente na região do Cariri, nos anos de 2004, 2009 e 2011 ocorreram problemas de enchentes e inundações.
Desta forma o Governo Federal sentiu a necessidade da criação de um programa de prevenção de desastres naturais, visando minimizar os efeitos desses eventos sobre toda a população.  
O crescimento acelerado das cidades aliado à ocupação desordenada, tem sido o principal responsável pelos eventos naturais com consequências catastróficas que se sucedem nos grandes e pequenos núcleos urbanos. Ocupação de encostas sem nenhum critério técnico ou planejamento bem como a ocupação das planícies de inundação dos principais cursos d’água que cortam a grande maioria dos municípios brasileiros tem sido os principais causadores de mortes e das grandes perdas materiais.
Visando uma redução geral das perdas humanas e materiais o Governo Federal, em ação coordenada pela Casa Civil da Presidência da República em consonância com os Ministérios da Integração Nacional, Ministério das Cidades, Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério da Defesa e o Ministério de Minas e Energia firmaram convênios de colaboração mútua para executar em todo o país o diagnóstico e mapeamento das áreas com potencial de risco alto a muito alto.
O programa será executado pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM, empresa do Governo Federal ligada ao Ministério de Minas e Energia, com duração prevista para quatro anos. Entretanto, devido a grandes demandas e ao histórico de vários municípios brasileiros, iniciou-se uma ação emergencial em novembro de 2011 em algumas localidades com o objetivo de mapear, descrever e classificar as situações com potencialidade para risco alto e muito alto.
Os dados resultantes deste trabalho emergencial são disponibilizados em caráter primário às defesas civis de cada município e os dados finais irão alimentar o banco nacional de dados do CEMADEN (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), localizado em Cachoeira Paulista – SP, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, que é o órgão responsável pelos alertas de ocorrência de eventos climáticos de maior magnitude que possam colocar em risco vidas humanas, e do CENAD (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres), localizado em Brasília - DF, ligado ao Ministério da Integração Nacional, que como algumas de suas atribuições, inclui o monitoramento, a previsão, prevenção, preparação, mitigação e resposta aos desastres, além de difundir os alertas nos estados e municípios.
O Município de Maranguape foi um dos selecionados pela defesa civil nacional para ser setorizado segundo os aspectos de risco geológico a escorregamentos e inundação no ano de 2014. Com esse objetivo, a geóloga Juliana Gonçalves Rodrigues e os geólogos Filipe Modesto e Claudio Cajazeiras fizeram a setorização das áreas de alto e muito alto risco durante nos dias 06/08/2014 e 06/10/2014.
2.     Contexto Geológico-Geomorfológico local
O município de Maranguape apresenta um quadro geológico onde predominam rochas do embasamento cristalino pré-cambriano, representadas por gnaisses e migmatitos diversos, quartzitos, xistos e metacalcários, além de rochas plutônicas e metaplutônicas de composição predominantemente granítica. Ocorrem também rochas vulcânicas alcalinas, de idade terciária.  Coberturas aluvionares, quaternárias, formadas por areias, siltes, argilas e cascalhos, distribuem-se ao longo dos principais cursos d’água que drenam o município.
A paisagem regional mostra formas suaves, pouco dissecadas, correspondentes à Depressão Sertaneja, na qual sobressai o maciço residual da serra de Maranguape, com altitudes que atingem mais de 700 m. Outras áreas serranas são observadas no limite leste do município (serra da Aratanha) e a sul das localidades de Amanari e Itapebuçu. Solos do tipo bruno não-cálcico são os predominantes no território, secundados pelos podzólicos, principalmente nas áreas mais elevadas. As comunidades vegetais dominantes são a caatinga arbustiva densa, a mata seca (floresta subcaducifólia tropical pluvial) e manchas de mata úmida (floresta subperenifólia tropical plúvio-nebular).
3.     Contexto Hidrológico
O município de Maranguape insere-se na bacia hidrográfica Metropolitana. Como principais drenagens superficiais os rios Maranguape, Baú e Água Verde, além dos riachos Amanari e da Cruz.
 Segundo o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Ceará (SRH, 1992), o nível de açudagem estimado na época era de 53 açudes, com capacidade total de 24,32 hm3. Além desses estão presentes no município os açudes Papara e Amanari, este último com capacidade de armazenamento na ordem de 11,3 hm3.
No município de Maranguape podem-se distinguir dois domínios hidrogeológicos distintos: rochas cristalinas e depósitos aluvionares.
As rochas cristalinas predominam na região e representam o que é denominado comumente de “aquífero fissural”.  Como basicamente não existe uma porosidade primária nesse tipo de rocha, a ocorrência da água subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária, representada por fraturas e fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão.  Dentro deste contexto, em geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água, em função da falta de circulação e dos efeitos do clima semi-árido é, na maior parte das vezes, salinizada.  Essas condições atribuem um potencial hidrogeológico baixo para as rochas cristalinas sem, no entanto, diminuir sua importância como alternativa de abastecimento em casos de pequenas comunidades ou como reserva estratégica em períodos prolongados de estiagem.
Os depósitos aluvionares são representados por sedimentos areno-argilosos recentes, que ocorrem margeando as calhas dos principais rios e riachos que drenam a região, e apresentam, em geral, uma boa alternativa como manancial, tendo uma importância relativa alta do ponto de vista hidrogeológico, principalmente em regiões semi-áridas com predomínio de rochas cristalinas.  Normalmente, a alta permeabilidade dos termos arenosos compensa as pequenas espessuras, produzindo vazões significativas.
4.        Resultados Obtidos  
              As visitas técnicas de campo foram realizadas em parceria com o Coordenador da Defesa Civil, Antônio Silvio Nunes Costa, e com o Técnico em Gestão Ambiental do município, Elieser da Silva Oliveira. 
O presente trabalho resultou na seleção de sete áreas consideradas de risco alto em função de sua ocupação e de fenômenos naturais que ocorrem. Em linhas gerais, essas áreas são representadas por uma ocupação inadequada de áreas situadas às margens de rios, submetidas a enchentes e inundações, e de áreas de encosta. Tudo isso é resultante de um processo histórico de crescimento do município, sem controle e planejamento.
Ressalta-se que dentre todas as ações sugeridas, devem ser foco no município em função da situação de risco apresentada, os seguintes setores:    
a)   Alto dos Marianos:
O Alto dos Marianos é uma comunidade situada na vertente sudeste da Serra de Maranguape. Nesse setor há construções tanto na parte convexa quanto na côncava da encosta. Em campo, observamos que os talvegues estão preenchidos por tálus, com matacões métricos subarredondados envoltos em material coluvionar. A realização dos cortes para a instalação das construções pode estar relacionado com as condições de instabilidade observadas: poste inclinado; chão cedendo e trincas nas paredes que são constantemente concertadas pelos moradores; tombamento de muros, que são indicativas do processo de rastejo.
Além das condicionantes geológicas desfavoráveis, que tornam o local tecnicamente inadequado para ocupação, o avanço da favelização tem representado um desequilíbrio nas condições geotécnicas e ambientais da encosta, através de desmatamentos, cortes, e lançamentos de aterro, entulho, lixo e águas servidas.
b)   Parque das Rosas:
As casas são inundadas por águas do riacho Pirapora que recebe águas de dois açudes à montante. A vertente leste do maciço de Maranguape forma uma bacia de captação com níveis mais altos em torno de 900 m e na planície de inundação do riacho Pirapora, as cotas estão em torno dos 82 m formando um desnível de aproximadamente 800 m em uma distância cerca de 1,5 km. Em períodos de intensa precipitação, com destaque para o ano de 2009, as águas descem a encosta abaixo com força e velocidade, inundando casas em um nível de 0,90 m, que segundo relatos de moradores o nível das águas foi normalizado em 7 horas. Vale ressaltar que o bueiro por não possuir saídas de água com um dimensionamento correto para escoar tal vazão, acaba funciona como uma parede de contenção dificultando o escoamento da água. Fica o alerta para o perigo do rompimento das paredes dos açudes a montante que podem provocar grandes estragos.
c)   Pirapora:
Nesse setor está instalado o processo de rastejo. As moradias foram construídas sobre um depósito de tálus, com matacões métricos subarredondados envoltos em material coluvionar. A realização dos cortes para a instalação das construções pode estar relacionado com as condições de instabilidade observadas: trincas no chão e nas paredes, recalque no piso e degraus de abatimento.
Além das condicionantes geológicas desfavoráveis, que tornam o local tecnicamente inadequado para ocupação, a presença de açudes na região também chamou a atenção. O acúmulo de água nesses pontos tende a saturar o material, propiciando a instabilização do mesmo.
d)   Preguiça:
 Esse setor apresenta risco potencial a rolamento de blocos. As moradias foram construídas sobre um depósito de tálus, com matacões métricos subarredondados envoltos em material coluvionar. A realização dos cortes para a instalação das construções pode atuar como fator causador de instabilidade. Foram observadas feições indicativas de movimentação do terreno, como: trincas no chão e degraus com recalque.
e)   Gavião:
 Área sujeita a enxurrada. No local observa-se uma drenagem com declividade superior a 45 graus e grande quantidade de blocos e matacões no seu leito, nela também, pode ser observado uma grande quantidade de lixo e algumas construções que obstruem o caminho natural das águas.
f)     Novo Parque Iracema (1):
Área sujeita Rolamento de Blocos. No local, segundo relatos dos moradores, o processo de rolamento de blocos está ativo chegando alguns blocos e matacões atingirem próximos as casas.
Podemos observar que as moradias estão sobre um deposito de tálus e, em alguns casos, as casas estão com fundações sobre os matacões, ou mesmo, entre os blocos de rocha. Ainda algumas construções foram feitas sobre o sistema de corte/aterro que podem gerar mais instabilidade ao terreno provocando deslizamentos.
g)   Novo Parque Iracema (2):
Área sujeita a deslizamento. Pequeno anfiteatro, com aproximadamente 20 metros de amplitude e íngreme. As moradias de taipa estão na crista do talude, foram construídas pelo método corte/aterro. O solo da região é bastante arenoso, e no local encontra-se exposto, o que pode acelerar processos erosivos.
5.     Sugestões
Tendo em vista os sete casos acima descritos, a seguir estão dispostas algumas sugestões de ações mitigadoras.
·         Palestras/campanhas de educação ambiental para a população, promovendo o entendimento dos prejuízos causados pelo descarte irregular e o acúmulo de lixo nas drenagens e nas encostas;
·         Campanhas de sensibilização da população para apoiar a Defesa Civil nos momentos de emergência, entendendo a necessidade de evacuações imediatas ou permanentes. Palestras em igrejas, praças e escolas, bem como distribuição de cartilhas e sessões de vídeos com situações de emergência podem colaborar para o entendimento, bem como conscientização da população sobre os riscos de construções feitas de forma incorreta e sem conhecimento técnico;
·         Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como, pavimentação de ruas e implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais para aumentar a velocidade de escoamento das águas para fora da área de inundação;
·         Controle urbano para evitar construções e intervenções inadequadas em áreas de inundação, por exemplo, proibir o aterramento sobre planície;
·         Implantação do sistema de alerta para chuvas anômalas, e monitoramento dos açudes a montante para que os moradores possam ser removidos temporariamente do local com antecedência;
·         Formação de líderes comunitários para apoiar a Defesa Civil Municipal;
·         Manutenção e limpeza constante das galerias de águas pluviais, evitando o acúmulo de lixo, crescimento de vegetação, vazamentos e infiltrações.
·         Vistorias efetivas e periódicas por profissionais da área de engenharia e/ou geotecnia, com realização de obras adequadas e dimensionadas para o município.
Ressalta-se também a importância da elaboração de um plano de ordenamento territorial do município, visando o planejamento de ocupação urbana e rural de forma adequada e sustentável.



Contato municipal
Órgão Municipal: Defesa Civil Municipal.
Coordenador: Antônio Silvio Nunes Costa
Telefone: (85) 8960-9707      Email: antoniosilvio1@live.com

Agradecimentos Especiais
O Serviço Geológico do Brasil – CPRM agradece a Defesa civil do município pela dedicação e comprometimento, abdicando de sua carga de trabalho para nos propiciar a execução dessa tarefa. Sem esta valiosa contribuição, nada teria sido possível.
A todos, a nossa gratidão.
Equipe Técnica:
Geólogos - Pesquisadores em Geociências da CPRM
(Unidade Residência de Fortaleza)


Claudio Cajazeiras       Juliana Gonçalves       Filipe Modesto












 
 











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